quinta-feira, 25 de junho de 2015

Mais de 4 mil escolas do campo foram fechadas em 2014 no Brasil

Dados do Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostra que mais 4.084 escolas do campo foram fechadas em 2014 no Brasil. Se pegarmos os últimos 15 anos, essa quantidade salta para mais de 37 mil unidades educacionais a menos no meio rural.
Se dividirmos esses números ao longo do ano, temos oito escolas rurais fechadas por dia em todo país.
Dentre as regiões mais afetadas, norte e nordeste lideram o ranking. Só em 2014 foram 872 escolas fechadas na Bahia. O Maranhão aparece no segundo lugar, com 407 fechadas, seguido pelo Piauí com 377.
Há tempo que estes números preocupam entidades e movimentos sociais ligados ao campo e à educação, ainda mais pelo fato dos municípios mais pobres serem os mais afetados.
 
Para Clarice Santos, professora da Universidade de Brasília (UnB), “esses números revelam o fracasso da atual política de educação no campo”. Para ela, os instrumentos criados precisam ser revistos para que se alcance o resultado esperado. “Se por um lado existe um esforço do governo federal em ampliar o transporte escolar rural, por outro, esse esforço não é o mesmo para evitar o fechamento das escolas”, exemplifica. “Não faz sentido pensarmos em transporte sem alunos. Ou seja, é um conjunto de critérios que demonstram as falhas das atuais políticas educacionais", ressalta Santos.
De acordo com Erivan Hilário, do setor de educação do MST, o fechamento destas escolas representa um atentado à educação, um direito historicamente conquistado. "O fechamento das escolas no campo não pode ser entendido somente pelo viés da educação. O que está em jogo é a opção do governo por um modelo de desenvolvimento para o campo, que é o agronegócio”, aponta.
Segundo Erivan, a situação que vivemos “não está isolada desta opção, porque o agronegócio pensa num campo sem gente, sem cultura e, portanto, um campo sem educação e sem escola”. Ele observa que ao mesmo tempo em que há fechamento sistematizado das escolas no campo, o número de construções de novas unidades educacionais nos centros urbanos têm crescido.
“Esse é um dado importante de ser analisado. O fechamento das escolas do campo contribui para o êxodo rural, além de consolidar o papel do agronegócio nessas regiões com a priorização dos lucros”, ressalta.
Além da falta de escolas, outro fenômeno observado é a chamada “nucleação”, quando várias unidades escolares são concentradas numa “escola pólo”. Isso tende a minar cada vez mais a educação já cambaleante nestas regiões, dificultando o processo de aprendizagem e crescimento de crianças e jovens.

O jogo de empurra-empurra

A falta de investimento das prefeituras locais é apontada como um dos grandes motivos para o fechamento das escolas no campo. As prefeituras, por sua vez, alegam que o número de alunos matriculados não é o suficiente para manter novas unidades educacionais. Porém, o fechamento dessas escolas atingiu cerca de 83 mil alunos em todo o país.
De acordo com Erivan, mesmo nas regiões onde existem vagas, sobra precariedade. Das 70.816 instituições na área rural registradas em 2013 (uma década antes eram 103.328), muitas delas continuam sem infraestrutura adequada, biblioteca, internet ou laboratório de ciências. Outro ponto de alerta é a falta de adequação do material didático.
Sem falar da adoção de conteúdos, práticas e atividades distantes do universo cotidiano e simbólico dos alunos camponeses, quilombolas ou ribeirinhos, bem como aponta Erivan.

Falta fiscalização do poder público e da sociedade

Lançada em 2014, a Lei 12.960 tinha como objetivo mudar as Diretrizes e Bases da Educação (LDB), e um dos pontos previstos era justamente aumentar o grau de exigência para que uma escola fosse fechada, mas na prática não foi o que aconteceu. Neste caso, o grande problema é a falta de fiscalização, tanto dos órgãos públicos quanto da população.
Para Erivan,“o MEC institui as portarias, as leis são sancionadas, mas, na prática, quem tem o poder de fechar as escolas é o município. Se o município alega falta de alunos e de verbas, as escolas acabam sendo fechadas, e políticas que poderiam impedir esse fato não são colocadas em prática”.
Os movimentos sociais alertam para a necessidade de criar uma ampla articulação entre os movimentos e os órgãos públicos responsáveis pela fiscalização das políticas públicas com o intuito de garantir a população do campo, principalmente às crianças e os adolescentes o direito de ter acesso a educação de qualidade em suas comunidades.
Relação completa das escolas do campo fechadas em 2014
Fonte: Página do MST

domingo, 7 de junho de 2015

Escola realiza mapeamento das potencialidades do semiárido

As riquezas do semiárido brasileiro são pouco conhecidas pela maioria da população devido à ausência de estudos sobre estes temas nas escolas e à falta de divulgação nos meios de comunicação. Com o propósito de ampliar os estudos e a produção de conhecimentos sobre as potencialidades socioeconômicas desta região, a Escola Municipal Liberato Vieira realizou no mês de maio/2015, um mapeamento das potencialidades socioeconômicas em 10 comunidades no município de Ipiranga, no semiárido piauiense.
O mapeamento foi realizado pelos estudantes do 1º ao 9º ano, envolvendo 124 famílias e 445 pessoas, quase 50% do total de famílias que vivem na região do Brejo da Fortaleza, zona rural do município de Ipiranga. Com este trabalho, os estudantes tiveram a oportunidade de conhecer as principais potencialidades da comunidade, principalmente aquelas relacionadas às atividades agrícolas e a pecuária, principal fonte de renda da região.
De acordo com os alunos, chamou a atenção o grande número de famílias que não tem a posse da terra e desenvolvem suas atividades como meeiros e/ou arrendatários. Além disso, observou-se que há muito desperdícios de frutas que poderia ser utilizadas na produção de doces, polpas e geleias.
Constatou-se também que são poucas as famílias que produzem para a comercialização. A maioria limita-se à produção para o consumo, talvez devido à pequena área para produção e a ausência de políticas no município que fomente a comercialização da agricultura familiar.
Para Graziely Veloso, aluna do 8º ano, o trabalho foi muito importante para que os estudantes pudessem conhecer melhor as potencialidades da comunidade, interagir e trocar experiências com as famílias. Por outro lado, ela acrescenta que este trabalho de pesquisa na comunidade foi importante para o desenvolvimento da autonomia e da autoconfiança dos estudantes, já que no inicio das atividades muitos achavam que não iam conseguir atingir os objetivos proposto.
Na última sexta-feira (05/06), a equipe pedagógica da escola participou de uma Oficina Pedagógica sobre Educação contextualizada no Semiárido, realizada pela Rede de Educação no Semiárido e a Universidade Federal do Piauí, com o propósito de aprofundar a discussão com os professores, os alunos e os pais sobre o mapeamento da realidade, visualizando as atividades que poderiam ser realizadas para contribuir com a melhoria da qualidade de vida das famílias.
Durante a Oficina, os professores também tiveram a oportunidade discutir as estratégias pedagógicas que serão desenvolvidas no processo sistematização e organização dos conhecimentos extraídos do mapeamento da realidade. Devido o volume de informações e a complexidade destes dados, tornou-se necessário organizá-los em eixos e sub-eixos temáticos com o propósito de estabelecer os diálogos interdisciplinares entre os dados da pesquisa e os conhecimentos escolares, visando o desvelamento dos fatos e a compreensão aprofundada dos aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais que estão implícitos na vida do sertanejo.
Horta Pedagógica
Para o professor da Universidade Federal do Piauí, Elmo de Souza Lima, que assessora o projeto de educação contextualizada na escola, não basta extrair os dados da realidade, é necessário desenvolver um trabalho pedagógico criterioso com estes conhecimentos com o intuito de levar os educandos a ampliarem o olhar sobre o contexto no qual estão inseridos, superando as visões ingênuas e simplificadas da realidade.
Viveiro de Mudas
Com o propósito de aprofundar os estudos contextualizados no semiárido, a Escola Municipal Liberato Vieira desenvolve também intercâmbios de experiências e aulas de estudos e pesquisas na comunidade. Além disso, construiu na escola uma horta pedagógica e um viveiro de mudas para a produção de plantas nativas e frutíferas.