sábado, 17 de setembro de 2016

Encontro Nacional discute estratégias de fortalecimento da educação contextualizada no semiárido

 À luz da teoria de Paulo Freire, dezenas de educadoras e educadores populares de todo o Semiárido participaram, nos dias 13, 14 e 15 de setembro de 2016, em Teresina – PI, do Encontro Nacional de Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido, realizado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), com a participação de 90 pessoas vindas dos 11 estados que compõem a região semiárida.
E “esperançar” foi o verbo que deu o tom inicial do Encontro Nacional de Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido, realizado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). “Precisamos esperançar no sentido que Paulo Freire dizia: esperançar é juntar-se com outros e outras para fazer de outro modo. E estamos aqui hoje tentando manter o verbo esperançar para continuar a luta e é este o objetivo da ASA de construir uma educação como processo de vida e com uma perspectiva de inserir na sociedade pessoas novas para que possamos combater as tantas desesperanças”, enfatizou o Coordenador executivo da ASA pelo estado do Piauí, Carlos Humberto.
A mesa de abertura contou também com a apresentação da experiência em educação da Escola Municipal Liberato Vieira, localizada na comunidade Brejo da Fortaleza, município de Ipiranga do Piauí, que a partir de ações simples como hortas escolares conseguiu envolver estudantes, professores e comunidade. A estudante e amiga da escola Verônica Fontes de Souza que vivenciou a mudança na localidade destacou o conselho que sempre ouviu de uma de suas professoras. “É como ela diz: Não vamos ligar somente para o que a professora diz na escola, vamos nos importar com a nossa comunidade porque é dela que vocês vão avançar o aprendizado de vocês, porque se não conhecermos a realidade de nossa comunidade jamais poderemos ser sabedores de nossa ciência”.
A Rede de Educação do Semiárido (Resab) também protagonizou esse primeiro momento. Vera Maria Oliveira Carneiro que faz parte da Rede enfatizou que é preciso que a educação contextualizada seja mais que um discurso. “Nós trabalhamos com uma proposta de educação contextualizada que além de perpassar pelos conteúdos para transformação dos sujeitos a partir da proposta de convivência com o Semiárido, precisa se transformar em uma politica pública de comunicação. A educação contextualizada vai desde o ensino fundamental até à universidade para que a escola não seja só uma repassadora de conteúdo, mas da construção de uma nova sociedade e de um novo Semiárido”, disse.
Neste contexto, o pesquisador e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais,Miguel Arroyo, convidado para falar sobre “o papel da educação popular na transformação social”, salientou o quanto é necessário transformar a realidade por meio da educação e provocou os presentes a pensar além. “Educação do Semiárido é outro projeto de Semiárido, é outro projeto de campo, é outro projeto de sociedade. Só lutar por um outro projeto de Semiárido sem pensar um outro projeto de sociedade é pensar pequeno, pois se queremos alargar a nossa concepção de educação contextualizada não pode ser para que fique fechada neste contexto, ao contrário, colocar este contexto em outro projeto de campo que sirva para a dignidade do bem viver”.
A fala do estudioso baseou-se em três principais palavras: vida, cultura e Semiárido. Para ele, a escola hoje não fala de vida, mas apenas de ensinar e aprender e por isso estamos ameaçando o direito à vida. Além disso, Arroyo explica que “a escola está muito centrada no conhecimento e menos na cultura, e o direito à cultura é muito mais radical do que o direito ao conhecimento. 80% dos conteúdos dos currículos são de saberes inúteis. E um saber que não ajuda a entender-me para que me serve?”.
Para Arroyo, o Brasil vive um momento delicado e este é um momento de reflexão para nós e importante do ponto de vista político, social e econômico. “Nós vivemos um momento de desafios, mas também de grandes oportunidades. Nós estamos firmes no nosso objetivo de construir um país melhor”. O importante é não desistir dos nossos sonhos, e falar de sonho e caminhada é falar de educação, de luta pela construção uma sociedade justa e democrática.
Na tarde do dia 13/09, os participantes do evento compartilharam as inúmeras experiências desenvolvidas nos seus estados e municípios na perspectiva da educação para a convivência com o semiárido. São experiências que estão mobilizando centenas de educadores, educandos e agricultores no sentido de construir práticas educativas que possibilitem a produção de conhecimentos que tenha a realidade do semiárido como ponto de partida para a compreensão e o desvelamento do mundo.
Na quinta-feira, a programação do evento foi organizada a partir da socialização de experiências exitosas na área da educação contextualizada no semiárido, numa interface com as temáticas: educação, gênero e sexualidade; Escola Família Agrícola; Educação e agroecologia; Educação e povos tradicionais; Políticas públicas e educação; relação entre o direito à terra e a educação.
Após a apresentação das experiências, os grupos de trabalho dedicaram-se à construção de estratégias políticas e pedagógicas que possibilitem a ampliação da educação contextualizada no Semiárido dentro da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA BRASIL).
Segundo Rafael Neves, coordenador do programa Cisterna nas Escolas, com este programa a ASA passa a se inserir numa dimensão importantíssima para a transformação da realidade do Semiárido. “Defender uma educação contextualizada é defender uma processo educativo no qual os filhos e filhas das famílias agricultoras não passem mais pelo desmerecimento dos saberes locais e pela desvalorização do trabalho de seus pais e suas mães no roçado, na lida no campo”, assegura ele.
Na mesa de encerramento do evento, os representantes da Asa Brasil e da Rede de Educação no Semiárido Brasileiro assumiram o compromisso de aprofundar o diálogo entre as duas redes, bem como, de fomentar o debate e as articulações nos estados com o propósito de consolidar as experiências de educação para a convivência com o semiárido e luta em defesa de um projeto de educação que contribua na transformação da região.
Fonte: Asacom

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