Enquanto o agronegócio batia recordes de produção, exportações e faturamento em vinte anos, cinco milhões de brasileiros fugiam do campo. Hoje, um quarto da população rural vive na pobreza extrema, segundo censo do IBGE. Nas cidades, miséria atinge 5% das pessoas. Grito da Terra 2011 pede 'ações emergencias' contra pobreza rural. Plano anti miséria do governo terá ações específicas para o campo.
BRASÍLIA – As estatísticas do agronegócio brasileiro em duas décadas impressionam. De 1990 a 2010, suas exportações multiplicaram-se por dez e hoje sustentam sozinhas o lucro do país no comércio com o exterior. A produção agrícola mais que duplicou e beira 160 milhões de toneladas ao ano, a maior safra do mundo depois da norte-americana. A economia rural enriqueceu seis vezes desde 1995 e atingiu R$ 180 bilhões em 2010. Foi o setor campeão de crescimento em dez anos, diz o ministério da Agricultura. Uma história de sucesso, portanto.
Essa história, contudo, é incompleta. O campo também exibe desalentado. Quem nasce ali tem cinco vezes mais chances de viver na pobreza extrema do que se tivesse nascido numa área urbana. Sete vezes mais possibilidades de morar numa casa sem luz elétrica e o triplo de não ter água e banheiro. Não surpreende que a zona rural tenha perdido cinco milhões de habitantes em duas décadas, enquanto a população das cidades ficava 45 milhões maior, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010 e que começou a ser divulgado no fim de abril.
O censo - que aponta a existência de 190 milhões de brasileiros, 85% em áreas urbanas - está ajudando o governo a preparar um plano de combate à pobreza extrema que deve ser anunciado em junho. A partir dele, foi possível definir o que seria pobreza extrema e identificar quem são e como vivem os brasileiros mergulhados nela. A conclusão é de que se trata de alguém com renda mensal máxima de R$ 70 reais e de que há 16,2 milhões de pessoas nesta situação. São eles o alvo do futuro programa.
Os miseráveis espalham-se de forma parecida entre a zona urbana e a rural. São 8,6 milhões na primeira e 7,5 milhões, na segunda. Mas há indícios de que o pobre camponês parece sofrer mais, porque a infra-estrutura rural é bem pior e o peso da miséria na população rural, também. Falta luz para cerca de 15% dos miseráveis camponeses e cerca de 2% dos urbanos. Falta água para 75% e 20%, respectivamente. Esgoto é uma realidade para uns 10% dos pobres do campo e uns 45% dos urbanos. Nas cidades, encontra-se um miserável a cada vinte pessoas. No campo, um a cada quatro.
Ações emergenciais e específicas
Não por acaso, “ações emergenciais de combate à pobreza rural” são o primeiro item da pauta de reivindicações do Grito da Terra 2011, que a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) realiza na próxima terça (17/05) e quarta-feira (18/05). A entidade, que se mobiliza todos os anos em Brasília para pressionar governo e Congresso a adotar medidas de interesse dos camponeses, pede assentamento de famílias acampadas, mais acesso ao Bolsa Família e mais programas de qualificação profissional, entre outras “ações emergenciais”.
“A presidenta Dilma tem clareza de que é fundamental evitar a favelização rural. No programa de combate à miséria, ela encomendou medidas muito fortes nesses aspecto”, afirma o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.
O plano ainda não está fechado, mas manifestações já feitas pelo ministério do Desenvolvimento Social, responsável pela elaboração dele, mostram que a estrutura do programa será um tripé. Haverá transferência de renda às pessoas, nos moldes do Bolsa Família (o que não quer dizer que serão dois pagamentos mensais). Esforço para melhorar a infra-estrutura dos lugares onde vive a população miserável (levar luz e água, por exemplo). E tentativa de “inclusão produtiva” dos beneficiados, para que eles consigam levar a vida sem depender de repasse mensal do governo.
Em relação ao campo, a dimensão “inclusão produtiva” tentará fazer com que as pessoas tenham terra e condições (financimento e apoio técnico oficiais) de produzir para comer e, se possível, vender. Pelo menos neste aspecto, o pobre rural está em vantagem frente ao urbano. Possui uma profissão quase natural (produtor agrícola) e, em alguns casos, um meio de produção (terra). Mas haverá espaço para o camponês pobre nas bem sucedidas estatísticas do agronegócio?
Essa história, contudo, é incompleta. O campo também exibe desalentado. Quem nasce ali tem cinco vezes mais chances de viver na pobreza extrema do que se tivesse nascido numa área urbana. Sete vezes mais possibilidades de morar numa casa sem luz elétrica e o triplo de não ter água e banheiro. Não surpreende que a zona rural tenha perdido cinco milhões de habitantes em duas décadas, enquanto a população das cidades ficava 45 milhões maior, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010 e que começou a ser divulgado no fim de abril.
O censo - que aponta a existência de 190 milhões de brasileiros, 85% em áreas urbanas - está ajudando o governo a preparar um plano de combate à pobreza extrema que deve ser anunciado em junho. A partir dele, foi possível definir o que seria pobreza extrema e identificar quem são e como vivem os brasileiros mergulhados nela. A conclusão é de que se trata de alguém com renda mensal máxima de R$ 70 reais e de que há 16,2 milhões de pessoas nesta situação. São eles o alvo do futuro programa.
Os miseráveis espalham-se de forma parecida entre a zona urbana e a rural. São 8,6 milhões na primeira e 7,5 milhões, na segunda. Mas há indícios de que o pobre camponês parece sofrer mais, porque a infra-estrutura rural é bem pior e o peso da miséria na população rural, também. Falta luz para cerca de 15% dos miseráveis camponeses e cerca de 2% dos urbanos. Falta água para 75% e 20%, respectivamente. Esgoto é uma realidade para uns 10% dos pobres do campo e uns 45% dos urbanos. Nas cidades, encontra-se um miserável a cada vinte pessoas. No campo, um a cada quatro.
Ações emergenciais e específicas
Não por acaso, “ações emergenciais de combate à pobreza rural” são o primeiro item da pauta de reivindicações do Grito da Terra 2011, que a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) realiza na próxima terça (17/05) e quarta-feira (18/05). A entidade, que se mobiliza todos os anos em Brasília para pressionar governo e Congresso a adotar medidas de interesse dos camponeses, pede assentamento de famílias acampadas, mais acesso ao Bolsa Família e mais programas de qualificação profissional, entre outras “ações emergenciais”.
“A presidenta Dilma tem clareza de que é fundamental evitar a favelização rural. No programa de combate à miséria, ela encomendou medidas muito fortes nesses aspecto”, afirma o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.
O plano ainda não está fechado, mas manifestações já feitas pelo ministério do Desenvolvimento Social, responsável pela elaboração dele, mostram que a estrutura do programa será um tripé. Haverá transferência de renda às pessoas, nos moldes do Bolsa Família (o que não quer dizer que serão dois pagamentos mensais). Esforço para melhorar a infra-estrutura dos lugares onde vive a população miserável (levar luz e água, por exemplo). E tentativa de “inclusão produtiva” dos beneficiados, para que eles consigam levar a vida sem depender de repasse mensal do governo.
Em relação ao campo, a dimensão “inclusão produtiva” tentará fazer com que as pessoas tenham terra e condições (financimento e apoio técnico oficiais) de produzir para comer e, se possível, vender. Pelo menos neste aspecto, o pobre rural está em vantagem frente ao urbano. Possui uma profissão quase natural (produtor agrícola) e, em alguns casos, um meio de produção (terra). Mas haverá espaço para o camponês pobre nas bem sucedidas estatísticas do agronegócio?
Fotos: Agência Brasil
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