terça-feira, 11 de outubro de 2011

Comunidades rurais concentram maior número de pessoas excluídas da educação


Uma pesquisa mostra que a maioria dos adultos que buscam se alfabetizar é originária da zona rural. Este estudo que busca traçar o perfil das pessoas que se alfabetizam tardiamente e entender quais os motivos que as levaram a não estudar quando crianças foi desenvolvido pela educadora Vanessa de Oliveira Pupo na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).
A pesquisadora observou que a maioria dos adultos que buscam a alfabetização veio da zona rural, e essa origem os distinguia dos que moravam na zona urbana na época em que eram crianças, fazendo-os ter um modo de vida diferente. Modo de vida esse que acabava não valorizando a educação escolar.
A pesquisadora entrevistou 483 adultos matriculados em séries de alfabetização (1ª a 4ª série) na cidade de Piracicaba, em todas as escolas municipais que ofereciam este tipo de curso, por meio de questionários pessoais. Segundo a educadora, os entrevistados tinham disposições culturais diferentes da cultura propagada no cenário urbano na época em que eram crianças. Com as informações coletadas, foi observado que a maioria dos novos estudantes tinha mais de 50 anos (190 pessoas da mostra), que os gêneros estavam equiparados (51% de mulheres e 49% de homens), assim como a etnia (50% de brancos e 50% de negros e pardos). As ocupações mais comuns foram doméstica, dona de casa, pedreiro e desempregado.
Dos 483 estudantes, 68% são originários da zona rural e lá moravam em sua idade escolar. Seus pais ou irmãos também não foram alfabetizados, o que demonstra terem sido criados com uma cultura onde o estudo não é prioridade. Já seus filhos são alfabetizados, havendo uma mudança nessa cultura, que pode ser explicada inclusive por causa das exigências do mundo em que vivem hoje. Essas exigências do mundo atual e a inserção social possibilitada pela educação são alguns dos principais motivos apontados pelos alunos para que tenham tomado a iniciativa de voltar a estudar. Segundo a pesquisa, os entrevistados desejavam arrumar emprego, ajudar os filhos na escola, aumentar sua auto-estima e "deixar de ser cego" na sociedade. "Tais informações mostram que o grupo reconhece a importância da educação e a visualizam como ferramenta para a mobilidade social, tanto que eles colocaram seus filhos na escola", diz Vanessa.
Dívida histórica - Para a pesquisadora, a principal função de seu estudo é mostrar para a sociedade quem e como são os adultos que estão dentro das salas de alfabetização. Vanessa diz que ao iniciar a coleta de dados, verificou que não havia um histórico do perfil dos alunos na secretaria municipal de educação, o que tornou a pesquisa útil para o município para saber quem são os alunos que passaram pelas escolas no ano de 2009. A educadora acredita haver uma divida histórica com estas pessoas, que são tradicionalmente excluídas da sociedade, e que é necessário saber quem eles são e quais os fatores que os afastaram da escola.

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