O
Plenário da Câmara dos Deputados aprovou no dia 28 de junho o Plano Nacional de
Educação (PNE - PL 8035/10). Projeto de lei estabelece 20 metas a serem
cumpridas nos próximos 10 anos para elevar os índices educacionais brasileiros.
A principal inovação da proposta é a aplicação de um mínimo de recursos
públicos equivalentes a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação.
Para a
presidente do Conselho Nacional de Educação, Clélia Brandão Alvarenga Craveiro,
a aprovação do PNE representa um avanço para a educação brasileira, mas traz inúmeros desafios:
universalizar o atendimento público e de qualidade na educação infantil, no
ensino fundamental de nove anos e no ensino médio; extinguir o analfabetismo, democratizar
e expandir a oferta de educação superior; garantir oportunidades e atenção às
necessidades de estudantes com deficiência, indígenas, afro-descendentes,
quilombolas e povos do campo; implantar a escola de tempo integral na educação
básica; ampliar o investimento em educação pública e valorizar os profissionais
da educação.
O PNE
foi aprovado a partir da luta dos movimentos sociais e dos profissionais da
educação e apresenta grandes possibilidades de melhoria da educação brasileira.
No entanto, no contexto do semiárido, temos desafios históricos a serem
superados para conseguirmos aproveitar as oportunidades e possibilidades que
poderão surgir principalmente com a ampliação dos investimentos na educação.
Primeiro,
precisamos profissionalizar o processo de gestão dos sistemas municipais de
educação, com a instituição de uma política de planejamento e gestão pedagógica
participativa voltada às necessidades das escolas e das comunidades. Na maioria
dos pequenos municípios do semiárido nos deparamos com uma rede de educação sem
um Plano Municipal de Educação e uma Proposta Política Pedagógica consistente que
norteie o trabalho das escolas e dos educadores.
Por outro
lado, temos os problemas relacionados ao mau uso dos recursos públicos, seja
devido às práticas desvios dos recursos públicos ou pela ineficiência administrativa
que permite o desperdício destes recursos com a aquisição de materiais e
serviços que não atendem as principais demandas dos educadores e das instituições
de ensino.
Paralelo
a isto, temos os desafios relacionados à formação continuada dos educadores que
permita a construção coletiva de um projeto de educação que tenha como
referencia a realidade sociocultural dos educandos e suas necessidades
formativas, considerando as dimensões socioculturais, políticas, técnicas e
cognitivas.
É necessário
pensar em políticas de formação continuada que permita aos educadores o
desenvolvimento de competências técnicas, políticas e éticas capazes de fomentar
a produção de metodologias de ensino que favoreça o diálogo com o contexto
local e a produção de conhecimentos associado à compreensão crítica das
riquezas socioculturais, naturais e produtivas da região, possibilitando a
visualização das oportunidades de desenvolvimento sustentável.
Desse modo,
os municípios do semiárido serão beneficiados de fato com os recursos e as
políticas propostas pelo PNE se tiverem a competência de articular equipes pedagógicas
com a capacidade de pensar os novos projetos educativos, voltados à superação
dos desafios políticos e pedagógicos vivenciados pelas escolas, com suas
especificidades e potencialidades.
Por
outro lado, o acesso aos recursos e as políticas oriundas deste PNE passa pela
capacidade da gestão municipal na elaboração de projetos educativos consistentes
em sintonia com as novas demandas propostas pelo PNE, relacionado com as
diversidades culturais, a contextualização e a interdisciplinaridade da
proposta pedagógica da escola e a gestão democrática das políticas
administrativa e pedagógica das escolas.
Diante
desse contexto, cabe aos movimentos sociais e a Rede de Educação no Semiárido
Brasileiro (RESAB) mobilizarem os educadores, as universidades, as organizações
sociais e a sociedade de modo geral para assumirem coletivamente esta luta em
defesa da educação pública e de qualidade no semiárido, cobrando dos gestores
público a organização democrática do sistema municipal de educação que
contemple a participação popular e a construção coletiva dos projetos
educativos das escolas, garantindo que os saberes, as experiências e as
práticas culturais dos sertanejos sejam instrumentos de estudos e debates no
contexto das práticas educativas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário