De acordo com os dados do Censo Escolar, nos
últimos dez anos, são 32,5 mil unidades a menos no campo. Somente no ano
passado 3.296 escolas desse tipo foram fechadas no país. Agora, há 70,8 mil
escolas no campo, ante 103,3 mil em 2003.
O fechamento das escolas do campo é motivo de preocupação dos
educadores, movimentos sociais, sindicatos rurais e do próprio governo federal, que há dois
anos enviou ao Congresso um projeto para estancar essa redução anual.
A proposta, aprovada somente na semana
passada no Senado e agora no aguardo da sanção da presidente Dilma, fala nos
transtornos à população rural, que "ou deixa de ser atendida, ou passa a
demandar serviços de transporte escolar" –daí a ideia de exigir estudos e
consulta prévia à comunidade sobre o fechamento ou não das escolas.
Para os movimentos sociais essa prática
de fechamento das escolas do campo é um crime contra o direito das populações camponesas terem acesso à educação em suas comunidades sem terem que se sacrificarem para
deslocarem com transporte escolar precários para os centros urbanos para terem
acesso ao direito básico à educação.
Em muitos casos, prefeituras e Estados
alegam os custos de manutenção e problemas de estrutura nas escolas do campo. Para
isto, adotam a prática de "nucleação", quando várias escolas menores
são unidas em uma só "escola-polo", maior que as primeiras, ainda na
zona rural.
Com o fechamento das escolas, os
alunos se vêm obrigados a se deslocarem diariamente em estradas precárias que
aumenta o tempo da viagem e o cansaço para a jornada de estudo. Além do risco à
segurança das crianças, devido também às condições do transporte escolar em
alguns locais, federações de agricultores dizem que a medida acelera o abandono
das famílias do campo, facilita a evasão escolar e impede a participação deles
na comunidade.
Para os movimentos sociais, o maior
problema da educação do campo também é a falta de investimento na estrutura das
escolas ao longo dos anos, o que colabora para que sejam fechadas. Com a
precariedade das escolas e ausência de materiais didáticos, os próprios pais
também se vêm obrigados a mudarem seus filhos de escolas, como forma de
garantir um estudo melhor. Com isto, há um esvaziamento em algumas unidades de
ensino.
"Há uma ausência do Estado, que
não reforma, não amplia [as escolas]. As famílias dizem: como vou dizer para
meu filho continuar aqui, se não tem carteira, não tem banheiro?", afirma
José Wilson Gonçalves, da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura).
Campo sem escola
Para Bernardo Mançano Fernandes, da
Cátedra Unesco de Educação no Campo, o fechamento dessas escolas se deve ao
avanço das grandes plantações, que reduz o número de trabalhadores no campo, e
à falta de investimento das prefeituras. Segundo ele, o fechamento começou há
mais de 20 anos – e deve continuar.
Ainda de acordo com Mançano, a
nucleação pode ser uma alternativa para a melhoria de algumas escolas do campo.
"Desde que não seja um projeto só da secretaria, mas sim da secretaria em
conjunto com a comunidade."
Para João Batista Queiroz, professor
de licenciatura em educação no campo na UnB (Universidade de Brasília), a
extinção de escolas no interior também pode estimular o êxodo rural. Para ele,
o baixo número de alunos não pode ser justificativa para o fechamento, uma vez
que as comunidades podem investir em alternativas pedagógicas próprias. Uma
delas é a alternância, na qual os alunos intercalam períodos em sala de aula,
em regime de internato, com períodos na casa dos pais.
Fonte: Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário