Os jovens têm que sair e se fazer valer; sair e lutar por seus valores.” Esta frase de Padre Francisco lembra a força de vontade dos 60 jovens agricultores familiares que moram na zona rural dos municípios de Serra Talhada, Flores e Santa Cruz da Baixa Verde, em Pernambuco. São jovens que têm expresso nos olhos um desejo de aprender, um pulsar pelo conhecimento e a certeza de que só com a educação há transformação. Essa vontade os uniu no Projeto Escola das Águas.
A iniciativa de educação contextualizada formará 360 jovens agricultores familiares, com idade entre 18 e 29 anos, moradores da zona rural dos municípios de Araripina, Exú, Flores, Granito, Ouricuri, Parnamirim, Santa Cruz da Baixa Verde, Santa Filomena e Serra Talhada.
O curso é organizado em cinco módulos, três teóricos e dois práticos, totalizando 200 horas. Os momentos presenciais acontecem a cada dois meses. Nesse momento, os jovens visitarão áreas de produção agroecológica que contam com tecnologias que armazenam água da chuva para produção de alimentos, como as cisternas-calçadão, barreiros trincheiras e barragens subterrâneas construídas pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA).
No intervalo entre os módulos, os alunos receberão assessoria e assistência técnica para implantação de algumas tecnologias vivenciadas durante o curso em suas propriedades, em propriedades vizinhas ou em comunidades próximas onde residem.
No primeiro módulo, com o material didático em mãos, os/as aprendizes debateram os princípios gerais do conceito “convivência com o Semiárido” e vários assuntos relacionados à convivência: características da precipitação pluviométrica do Semiárido, poluição das águas, saúde e prevenção das doenças, legislação básica do código de águas, dentre outros temas.
No segundo módulo, a turma saiu da sala para conhecer os Sistemas Simplificados de Produção Agroecológica e, também, o passo a passo para a construção de uma cisterna de placas de cimento, na comunidade Caldeirão dos Barros, em Santa Cruz da Baixa Verde.
Wyldiane França, 23 anos, mãe de dois filhos e moradora do Sítio São Paulo, em Santa Cruz da Baixa Verde, é uma das alunas. “[Se] sem filhos as coisas são mais difíceis e quando se têm dois, bate um desespero, uma vontade de correr atrás do tempo pedido, de estudar, trabalhar, ter uma renda familiar que nos torne mais livres da dependência de esposo, pais. Vejo que apreendendo as tecnologias hídricas adaptadas à agricultura familiar é um passo para a liberdade financeira.”
Com 19 anos, Lucimar Maria da Silva resume as dificuldades em permanecer no campo e da sua intenção de superá-las. “Vários amigos e amigas depois que completaram 18 anos foram embora para outras cidades em busca de emprego. Aquilo sempre me deixava péssima porque todos/as choravam quando alguém se despedia. Tirei como lição e prometi para mim que buscaria conhecimentos, mas que seriam aplicados, repassados para as pessoas do Sítio Carvalhada, localidade onde moro”, garantiu.
De acordo com o educador social do Centro de Educação Comunitária Rural (Cecor), Valdir Vieira, o projeto vai capacitar 360 jovens em tecnologias hídricas adaptadas à agricultura familiar, tornando-os aptos a implantar sistemas de captação e manejo de água e pequenas áreas de irrigação nas áreas rurais do semiárido. “Através das capacitações, queremos garantir que os/as jovens tenham bagagem teórica e prática suficiente para se tornarem profissionais autônomos e eficientes, formados para ingressarem no mercado de trabalho”, explicou.
O projeto Escola das Águas é desenvolvido pelo Centro de Habilitação e Apoio ao Pequeno Agricultor do Araripe (Chapada), em parceria com o Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não Governamentais Alternativas (Caatinga) e Centro de Educação Comunitária Rural (Cecor), e tem o patrocínio da Petrobras, através do Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania.
Fonte: Asa Brasil
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