quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

O papel da educação na construção de uma sociedade ética e democrática


Diante do cenário político e social que estamos vivendo no Brasil é comum nos deparamos com discursos moralistas que determinam como deveriam agir nossos políticos, atribuindo-lhes inúmeras regras de comportamentos éticos a ser adotados na condução e zelo da coisa pública. No entanto, quase não vejo reflexões que nos ajudem a compreender as raízes históricas destes problemas ou apontem as alternativas que possam realmente reduzir estes desvios éticos que estão na base da cultura política do povo brasileiro.
Cabe-nos perceber que essas fragilidades referentes as atitudes éticas não é exclusividade daqueles que ocupam cargos públicos, pois é algo que se tornou comum na vida cotidiana, amparado por valores relativistas e permissivos que convencionamos chamar de “jeitinho brasileiro”. Não é por acaso que estas atitudes antiéticas sejam consideradas por alguns como “virtude”, associada as habilidades e capacidades de alguns indivíduos de burlarem as regras sociais, estabelecendo uma relação de privilégio diante dos outros. Pasmem, mas estas atitudes chegam a ser consideradas uma destreza, comuns às pessoas “inteligentes” e “espertas”.
Por essa razão, compreendo que esta “falta de ética”, atribuída ao campo da política partidária, tem suas raízes na cultura política de uma parcela singificativa da população brasileira, sendo inclusive reforçada, em grande medida, pelo modelo de educação ou “deseducação” que oferecemos aos nossos jovens. Nos referimos aqui a educação no seu sentido amplo, que engloba os processos de socialização de valores e conhecimentos difundidos às novas gerações, pelas diferentes instituições sociais, escolares e acadêmicas, centrados boa parte deles dentro de uma lógica individualista voltados ao sucesso individual, em detrimento do bem comum.
Nessa perspectiva, parte das soluções que se busca para os problemas éticos no campo da política governamental ou partidária, podem estar exatamente naquilo que compõe a base cultural e política da sociedade, a educação. É exatamente por meio dos valores, conhecimentos e princípios ético-políticos que apresentamos e vivenciamos com os jovens, como modelo a ser seguindo que vão definir em certa medida as suas práticas e atitudes na esfera social.
Este processo de crise social no qual estamos inseridos, refletidos por meio da corrupção, violência, intorelância, ódio e desesperança, constitui-se num alerta quanto a urgência de fazermos um debate sério com a sociedade sobre a importância da educação na construção de outro modelo de sociabilidade pautado em princípios éticos, solidários e democráticos. No entanto, este debate precisa superar os clichês da mídia, de soluções fáceis, rápidas e superficiais, buscando estabelecer um pacto político entre os vários setores políticos e sociais com o compromisso de discutir um projeto de educação que promova uma revisão crítica destes valores e conhecimentos que dão sustentação a este modelo sociadade que tanto criticamos.
Neste contexto, pensar a construção de uma nação ética e justa passa pelo desenvolvimento de projetos de formação cultural e política que oportunizem aos cidadãos a vivência e a incorportação destes princípios em suas práticas sociais. Um projeto de educação voltado à construção de novos referenciais ético-políticos e culturais que se constituam nos pilares deste projeto de sociedade, menos injusto e desigual.
Em alguns países com democracias consolidadas, a educação pública é compreendida como um instrumento político de promoção da equidade e da democracia, portanto um patrimônio nacional. No Brasil, não podemos continuar com essa racionalidade meramente utilitarista e mercantilista da educação, assumida por parte da classe média brasileira, que a veem como um instrumento de manutenção do "status quo" e da distinção entre classes sociais. Uma racionalidade que nega a importância política e cultural da escola pública e dar prioridade ao ensino privado como forma de consolidar um modelo de segregação social. Só teremos um país verdadeiramente democrático quando tivermos a capacidade de construir uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos.
É claro que não podemos ser ingênuo em acreditar que a educação sozinha tem o poder de tranformar a sociedade. Mas como dizia Paulo Freire, a educação sozinha não transforma a sociedade, mas sem ela tampouco a sociedade muda, pois a educação transforma as pessoas que se tornam agentes de transformação da sociedade.
Se realmente quiseremos transformar o nosso país numa nação ética e democrática, precisamos repensar urgentemente os princípios políticos que dão sustentação os projetos educativos implementados em nossas instituições educativas, sejam escolas e universidades ou outras organizações sociais, que atuam direta e indiretamente na formação cultural e política da população.


Elmo de Souza Lima - Doutor em Educação e professor do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

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