domingo, 9 de setembro de 2018

A ditadura do IDEB na educação brasileira

 O resultado do IDEB 2017, divulgado recentemente pelo INEP/MEC, tem provocado um verdadeiro alvoroço nos municípios brasileiros, principalmente no semiárido nordestino, desencadeando fortes pressões e perseguições às escolas e aos profissionais da educação.
É preocupante a forma como as secretarias municipais de educação tem utilizado o resultado do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) para coibir e limitar o desenvolvimento de projetos educativos inovadores voltados à realidade dos educandos e a reflexão crítica dos problemas sociais, políticos e econômicos que afetam as comunidades e o país.
Sob a influência do receituário neoliberal, as secretarias de educação estão promovendo uma verdadeira caça as bruxas com relação às escolas e aos educadores que não seguem os preceitos políticos e pedagógicos deste modelo de educação neotecnicista, que prioriza o desenvolvimento das habilidades cognitivas, exigidas nos exames e testes aplicados pelo MEC, em detrimento de uma formação crítica associada ao desenvolvimento da autonomia dos educandos.
Neste contexto, os projetos de educação do campo e educação para a convivência com o semiárido estão sofrendo fortes ataques nas secretarias municipais de educação por considerarem que estes projetos não estão contribuindo para a melhoria dos índices da educação dos municípios.
Ao usar este argumento, as secretarias de educação atribuem aos profissionais da educação a responsabilidade pelos baixos índices das escolas do campo e se eximem da responsabilidade de garantir uma educação de qualidade para os camponeses.
Além disso, silencia diante da situação de exclusão e desigualdades sociais que permeiam as comunidades rurais, que reflete fortemente no desenvolvimento sócio educacional das crianças e adolescentes, fruto do descaso do poder público com a população.
Os projetos de educação do campo estão voltados à formação integral dos educandos que, além de contemplar o desenvolvimento cognitivo das crianças e adolescentes, tem como foco a formação crítica e ética dos jovens, baseada nos princípios da cooperação, solidariedade, fraternidade e da justiça social, aspectos que talvez cause desconforto em certos gestores públicos. São projetos concebidos com o propósito de desenvolver conhecimentos, atitudes e valores associados a construção de uma sociedade justa e democrática.
 Elmo de Souza Lima - Doutor em Educação e professor do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

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